segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

"Anything But Ordinary"


       Houve uma época em que, devido a uma certa influência externa, senti-me especial. Eu nunca fui uma pessoa modesta, mas me tornei uma artificialmente. Há "outro eu" dentro de mim. Naquela época, ele estava sentado naquele lugar escuro onde nós nos tornamos entidades portadoras de luz própria. Então eu o dizia "Você não é especial". Ele não respondia. Acho que ele pensava que, por eu ser teimoso, não adiantava dizer o sentimento que tínhamos em comum. Nós nos achávamos superiores, nos considerávamos a última migalha do salgado... Mas eu me disfarcei, ninguém podia descobrir que era assim que eu pensava. Nem mesmo eu...


       Maldição. "Aquele homem" me encurralou em um beco sem saída... O beco era pichado por frases como "você mente a si mesmo", "você é especial? Ao menos é isso que você diz a si mesmo". O homem não tinha a intenção de me encurralar, mas fazia isso sem ao menos saber. Ele fez a lista de todas as luzinhas que enfeitavam meu corpo e minhas roupas. Eu ficava tão feliz quando ele as notava. Tão feliz... Mas é claro que eu não admiti isso. Eu tinha que fingir e dizer que são luzes definhadas. Cada vez era mais difícil dizer "Você não é especial". Mesmo assim eu sempre fugia e fugia dessa realidade. A verdade é que aquela sensação de ter as luzes reparadas e contempladas era inconcebivelmente agradável.

       Minhas luzes foram apagando, uma atrás da outra. Eu tenho luzes? Isso é verdade? Aquele homem me viu apagá-las. Eu não queria que isso tivesse acontecido, eu queria continuar meu reinado! Eu juro! Eu juro! Eu juro! Mas as coisas não aconteceram do jeito que eu queria... as coisas não aconteceram do jeito que todos eles queriam... que todos nós queríamos... 

       O meu primeiro álbum teve músicas ótimas. Eram diferentes e suas letras eram atraentes. Eu parecia um prodígio. Parecia... Mas acho que as pessoas não gostaram do meu segundo álbum... provavelmente o terceiro também não... tampouco os que vieram em seguida.

       Eu comecei a me maltratar, mas achei minha canção de ninar. As pessoas pareciam dizer "não dê ouvidos a esse lullaby, não dê... não dê... não... dê". Deixei de escutá-las. A canção era muito simples, seus versos me condenavam. Seus versos me menosprezavam. Não podia parar de escutar aquela canção... Ela me oferecia compreensão sobre mim mesmo. A palavra "compreensão" passava a pesar mais que a palavra "atitude". Sim, eu gastei séculos compreendendo a mim mesmo, mas será que compreendia tudo o que precisava? Não. Não, pois a compreensão limitava-se à letra daquela música. Na verdade, é até demais dizer que eu estava me compreendendo. Aquela compreensão penetrava em um só ponto. Sempre... no mesmo ponto.

       "Outro eu". "Criatura patética, não preciso dar ouvidos a ela" esse pensamento está errado... Eu pude notar que o "outro eu" sabia cantar, embora não fosse um lullaby, era mais saudável que a música tola que eu costumava escutar. Eu pude depreender coisas além do âmbito da lullaby.

       Eu estive pensando em todas as conclusões que tirei até agora, em todas as respostas incompletas que alcancei ao longo de minha vida. Parece que tenho uma mente de caráter ganancioso. Ela não se contentou com o que adquiriu, ela está esperando que eu busque mais.

       Em toda minha vida estive acendendo luzes. Dentro de mim eu gritava "Prestem atenção no meu brilho! Prestem atenção". Agora posso finalmente entender isso. Há luzes que se acendem automaticamente, eu já falei delas neste texto, mas também há outras que eu acendi manualmente, porque eu quis ser notado. Sempre estive buscando isso? Sempre estive buscando ser reparado? Eu não quero ser mundano, eu quero ser diferente. Eu quis ser de várias maneiras. As pessoas a minha volta não perceberam que eu queria isso. Eu também não. Quando aquele homem viu as luzes que se acenderam automaticamente em mim, eu me senti notado.

       Mais cedo, soube que uma pessoa disse que tenho uma luz que na verdade não tenho... Mas pensando bem... eu queria tê-la, eu admito... Não por seu benefício (em essência), mas por ser um marcador. Alguns dias atrás outra pessoa também citou um brilho que acho que não tenho. Mas me senti confortável eu escutar aquilo, pois quero ser "qualquer coisa, menos comum"...

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